O Touro e o Cavalo
Lamborghini estava tão determinado a fazer um carro, que começou a organizar uma equipe para trabalhar no projeto. Utilizou o dinheiro que seria para a propaganda dos tratores, para construir a linha de produção dos carros. Se desse certo, o negócio causaria tanto barulho que a publicidade espontânea compensaria a ausência de anúncios. Parece fácil, não? Nem tanto assim. Os bancos não quiseram financiar o projeto, sua equipe também tentou o desencorajar citando a concorrência e das dificuldades que teria que enfrentar, mas Lamborghini estava convencido de que teria sucesso.
Além disso, ele achava que se o carro fosse bom para ele, seria bom para os outros. Cerca de dois dias depois ele começou a formar a melhor equipe possível para construir um esportivo. Ferruccio estava reunido com Giotto Bizzarrini e Gian Paolo Dallara e ditando a receita exata para o carro. O logotipo foi escolhido por ser o signo de Ferruccio, mas não foi esse o principal motivo. Ele queria simplesmente algo que confrontasse visualmente o cavalo rampante de Enzo Ferrari, o touro é um símbolo histórico de força e desempenho. O que caiu como uma luva.
O Primeiro Lamborghini
Lamborghini 350GTV
O primeiro carro da Automobili Lamborghini foi o 350 GTV apresentado em 1963, que não chegou à linha de produção, mas foi a base para o 350 GT e, mais tarde, o 400 GT. Após testes de seu motor protótipo em maio de 1963, Giotto Bizzarrini deixou a empresa, e no mês seguinte Ferruccio Lamborghini atribuiu a Gian Paolo Dallara, com assistência de Paolo Stanzani e Bob Wallace a tarefa de desenvolver uma versão de produção do carro. Dallara e Stanzani perceberam que o 350GTV não foi projetado para ser produzido em massa e seria necessário reajustar o motor original e redesenhar o chassis original para uso urbano.
O motor 3,5 litros V12, tinha a essência de um motor de corrida, desenvolvia 400 cv a 11.000 rpm. Para tornar o carro mais agradável para uso normal, mais suave e duradouro Ferruccio contou com Dallara e Wallace para tornar o motor protótipo agradável para uso na rua. As alterações no motor incluíram:
Substituição do sistema de lubrificação de corrida por um cárter a seco convencional
Redução da compressão do motor de 11.0:1 para 9.4:1
Corte de materiais exóticos e outros componentes para reduzir custos
Adoção de um filtro único
Substituição dos caros carburadores Webers 36mm verticais de corrida por convencionais Webers 40 DCOE
Ferrucio Lamborghini no interior do 350GTV
Este primeiro motor L350, foi testado em 3 de outubro de 1963, e foi capaz de render 270cv, e poderia chegar a 254 km/h.
Embora o trabalho de design do 350 GT tenha continuado, o GTV foi realizado às pressas para a conclusão e realizar a apresentação à imprensa no dia 26 de outubro e a para apresentação no Turin Auto Show no dia 30. O GTV foi apresentado no Turin Auto Show com o motor Bizzarrini V12 original. O carro não era um "participante oficial", os braços de suspensão foram simplesmente soldados no lugar, e o motor não estava instalado. Assim era um modelo estático, que não poderia rodar, era apenas para exposição. A recepção morna do carro fez Ferruccio adiar seus planos para produção imediata, e começou a utilizar o design do novo 350 GT.
Em março de 1964, apenas 5 meses após estrear o GTV em Turim, o GTV redesenhado, agora chamado de GT 350 foi lançado no Genebra Auto Show. O entusiasmo com o modelo foi tão grande que o Ferruccio decidiu avançar com a produção em Sant'Agata Bolognese em maio de 1964. O primeiro conjunto chassis/carroceria do 350 GT, foi entregue pela fábrica da Lamborghini em 9 de março de 1964, nomeado como nº 101 (Touring # 17001). A primeira entrega ao cliente de um GT 350 foi nº 104 (Touring # 17004), entregue em 31 de julho de 1964.
Lamborghini 350 GT
A Lamborghini produziu 120 unidades do 350 GT, antes de substituí-lo pelo Lamborghini 400GT com motor maior de 4.0 litros, em 1966. Muitos 350 GT's foram posteriormente redimensionados para comportar o motor de 4 litros.
O segundo modelo produzido pela marca foi o 400 GT, que pode ser considerada uma evolução do 350 GT, possuindo motor maior e evoluções de estilo e design.
Lamborghini 400GT
O Primeiro Flagship
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Lamborghini 350GT conversível, Chassis do Miura e 350 GT
Em 1966 é lançado um modelo marcante na história da marca, e que impulsionou a fabricante de esportivos, esse foi o primeiro modelo com nome de touro que a fabricante adotou. O MIURA. Inicialmente foi batizado de P400, “P” vem do italiano posteriore, por causa do seu motor V12 de 4.0 Litros instalado em posição transversal e central - traseira. Apesar de usar um touro no logotipo de sua marca, Ferruccio Lamborghini só passou a batizar seus carros com nomes de touros de combate em 1966. O nome escolhido vem da mais famosa linhagem de touros de briga do mundo, criados pela fazenda pecuarista de Don Eduardo Miura Fernandez desde 1842 em Sevilha, na Espanha.
Produção/desenvolvimento do chassis do Miura
Dizem que o fazendeiro espanhol ficou furioso ao descobrir que seu nome e seus touros haviam sido usados para batizar um automóvel esportivo italiano, e para resolver a situação Ferruccio Lamborghini acabou visitando-o em sua fazenda em 1968, levando um Lamborghini Miura e seu modelo recém-lançado na época, o Islero.
O Lamborghini Miura foi o primeiro supercarro da Lamborghini com mais de 300cv. O chassi foi desenhado e desenvolvido por Gian Paolo Dallara, e a carroceria pelo aclamado estúdio Bertone. Foram construídos 3 protótipos do Miura antes de sua produção em série.
O Islero foi lançado em 1968 como substituto do 400GT, e também equipado como o motor v12. Foi o segundo Lamborghini a receber o nome de um touro do rancho Miura.
O animal viveu na primeira metade do século XX, tinha vista fraca e golpeava quase sempre com seu chifre direito. Em 28 de agosto de 1947 ele foi levado à plaza de toros em Linares, na Andaluzia, onde seria o segundo a enfrentar o famoso toureiro Manolete. Quando o matador se aproximou de Islero com a espada em riste para dar a estocada fatal, o touro cravou seu chifre direito na virilha de Manolete, perfurando sua artéria femoral. Manolete foi levado ao hospital, mas morreu pouco depois na mesa de cirurgia.
Touro Islero de Dom Miura
(à esquerda)
Lamborghini Islero
Devido a sua contribuição para a economia italiana enquanto industrial e empresário, Ferruccio Lamborghini recebeu o título de "Cavaliere del Lavoro", pelo Presidente da República da Itália, em 2 de junho de 1969.
Em 1970, desmotivado, numa altura onde na Itália as greves de trabalho e os conflitos sindicais eram constantes, Ferruccio Lamborghini resolve descansar e viver dos muitos rendimentos de que já usufruía, vendendo seu projeto de automóveis a um grupo suíço, e os tratores, ao fabricante Same.
Por esta altura Ferruccio nomeia Tonino, seu filho único do primeiro casamento, como gestor das suas restantes empresas, o qual, saindo ao pai se dedicou à multiplicação da herança recebida.
Ferrucio e seu filho Tonino, ao fundo Lamborghini Urraco
E voltando às suas origens ligadas à terra, Ferruccio compra uma propriedade que confina com o lago Trasimone, onde em um local de bela paisagem, constrói uma residência que dá o nome à propriedade — La Fiorita — constituído por uma plantação de vinha a se perder de vista, implantada a conselho e por orientação dos melhores peritos em vitivinicultura da época.
La fiorita
O vinho produzido, lançado no mercado mundial através da Feira de Verona, com garrafas expostas por cima de automóveis Lamborghini, foi apresentado ao público como "o generoso sangue dos Miúra", e se tornou sucesso absoluto. A produção desse ano e de anos seguintes obteve a média de 800 mil
garrafas, que foi praticamente toda vendida para exportação a um preço alto.
Durante a década de 70 a lamborghini lançou vários modelos, como o Jarama, produzido de 1970 a 1976, equipado com o mesmo v12. Espada, uma perua esportiva com motor v12 produzida de 1968 a 1978, e por fim o Urraco esse o primeiro carro da marca a não possuir o tradicional motor v12, e sim um v8, porém sendo fabricadas apenas 800 unidades entre 1973 e 1979.
Lamborghini Spada em linha de produção
Ferruccio Lamborghini casou-se novamente com Teresa, tendo com ela uma filha, Patrizia. Ferruccio Lamborghini, aos 60 anos de idade, passava os dias a viver a maior parte do seu tempo livre pela sua propriedade, afinando e reparando os seus tratores ou trabalhando com eles por distração, combinando, como passatempo, com os dias e as noites em que recebia, na La Fiorita, a alta sociedade da Itália e do resto do mundo com quem sempre conviveu e esteve ligado por razões profissionais.
Como tributo à valiosa obra deixada pelo seu pai, Tonino Lamborghini mandou construir, com projeto do reconhecido arquiteto Diversi, em Imola (Ferrara), um museu aberto ao público com as principais e originais produções Lamborghini.
Museo Ferrucio lamborghini
Um Novo Flagship
Por volta de 1971 começou- se o projeto do que viria a ser o sucessor do Miura (flagship da marca na época). Esse protótipo deu origem ao Countach lançado em 1974.
O Countach foi projetado por Marcello Gandini, do estúdio Bertone, o mesmo estúdio que desenhou o Lamborghini Miura. O corpo do Countach era largo e baixo, mas não muito longo. O desenho era caracterizado pelo perfil angular da carroceria e pelas linhas retas que se acentuavam angulosamente, e as formas que predominavam na carroceria eram trapezoidais.
As portas abriam-se para cima e para frente (surgimento das famosas e lambo doors), para auxiliar nas manobras com o carro, já que a área envidraçada na traseira era quase nula. Essas portas continuaram sendo usadas em modelos posteriores. O desenho era bastante futurista e até hoje não é visto da mesma forma como os demais esportivos daquela época, sendo considerado um carro muito bonito e um ícone dos anos 80.
O Countach foi o último carro com propriedade de Ferruccio Lamborghini, fundador da marca. Era equipado com v12 lamborghini, porem com 3 variações utlilizadas em diferentes versões de produção que durou cerca de 16 anos, eram elas 4.0, 5.0 e 5.2L. As versões fabricadas foram:
-Countach 25º Aniversário
-LP400
-LP400S
-LP500S
-5000QV
Foi safety car na formula 1, no GP de Mônaco entre 1980 e 1983. O Countach tornou- se ícone pop nos anos 80, junto com os neons, Synthwave/Retrowave, os filmes Scarface, Star Wars e Karate Kid, Michael Jackson, Miami e a série Miami Vice..
Sua produção durou até 1990. Ainda na década de 1980 houve o Lamborghini Jalpa que tinha a missão de concorrer com o Porsche 911 e as Ferrari de acesso. Porém acabou não tendo o sucesso que se imaginava e sua produção durou apenas de 1981 a 1988 com 420 exemplares fabricados.
Na próxima parte vamos você vai conhecer o sucessor do Countach e uma nova fase da Lamborghini.
